sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Meu trabalho "A História de Lagos até ao século XV"

Hoje venho partilhar convosco este meu trabalho e dar-vos a conhecer o I volume - "A História de Lagos até ao século XV" da colecção "Lagos – Património e Vida" que comecei a escrever a 01 de Agosto de 2009.

LAGOS – PATRIMÓNIO E VIDA

Livro I – A História de Lagos até ao século XV 
de Maria Carmelita de Portugal
Apresentação
LAGOS – Património e Vida é uma colecção de trabalhos sobre a história de Lagos ao longo dos séculos. Inicia-se com o I volume - A História de Lagos até ao século XV – que é um trabalho iniciado a 01 de Agosto de 2009 e concluído a 08 de Abril de 2010; um trabalho realizado ao longo de oito meses, devido a algo que me parecia um mistério que não conseguia encontrar esclarecido em lado nenhum; o mistério da igreja de Nossa Senhora da Graça, igreja Santa Maria da Graça e igreja Santa Maria como se fossem uma única igreja, mas a localização era para mim outro mistério do mesmo mistério – Porta da Vila, no cimo da colina; rua Nossa Senhora da Graça na colina do meio; igreja de Santa Maria entre as duas localizações. Demasiados mistérios para os deixar continuar mistério.
Como consequência, cheguei ao Infante Dom Henrique e a sua permanência em Lagos. Tudo o resto foi surgindo lateralmente e ocupando lugares de destaque.
Este primeiro volume - A História de Lagos até ao século XV – para o qual fui escrevendo e também pesquisando e corrigindo ao longo destes oito meses, tem sido um trabalho árduo, mas gratificante.
Assim se faz a vida e a história, caminhando!   

Agradecimentos
Agradeço ao Dr José Hermano Saraiva que, através do seu programa A Alma e a Gente que admiro, me foi dando a possibilidade de corrigir algumas informações menos exactas.
Também agradeço à Biblioteca Municipal de Lagos que desde os meus dez anos, na altura a Biblioteca Gulbenkian, me tem cedido imensos livros e revistas, CD e DVD que me têm enriquecido e contribuído em muito para este trabalho.

CAP I – Lagos desde os primórdios
Sabemos que o percurso histórico de Lagos se funde nos tempos primitivos com a chegada permanente de embarcações principalmente dos povos das margens do Mar Mediterrâneo.
Pela longa baía acolhedora em tempos de calmaria, pelas terras férteis do paul e pela abundância de água doce muitos povos de diferentes proveniências do Mediterrâneo vinham abastecer-se, explorar ou residir nestas paragens.
Os primeiros povoamentos conhecidos datam de cerca de 2000 anos antes de Jesus Cristo e situaram-se nas margens da Ribeira de Bensafrim – Rio de Lagos numa área conhecida por Paul, em frente do Monte Moleão e no próprio monte desde o Neolítico, passando pela Idade do Ferro, do Bronze, pela época turdetana, dos Lacões, céltica, cartaginesa. Havia quem se dedicasse à agricultura, olaria e tecidos, comércio e havia pescadores que habitavam ao longo da praia em frente da baía, actual Praia de São Roque (vulgo -Meia Praia).
Assim se vai formando Laccobriga que é edificada pelo povo Lacão, no ano 1899 antes de Jesus Cristo e fundada por Brigo, quarto rei das Hispânias, neto de Túbal, querendo significar Lago de Brigo, referindo-se ao paul junto do monte Moleão, sempre como uma povoação rural e marítima em quatro colinas: Cerro das Amendoeiras, Cerro do Lago, Monte Moleão e colina Nossa Senhora da Conceição. Além deste povoamento havia também um povoamento disperso por todos estes arredores numa área de muitos quilómetros.
Após a Idade do Bronze, na época Turdetana, da Lacóbriga primitiva exportava-se trigo, vinho, cera, azeite, peixe, sal, louça de cera com resistência ao calor, panos e tecidos com figuras quadradas e variedade de cores.
Vários povos, incluindo cartagineses, do norte de África, também chegaram a estas terras, chefiados pelo capitão Barça e cá se instalaram, segundo crónicas de Estrabão, vol. III (PAULA, 1992, p.350). Também segundo os textos clássicos, Amílcar Barça guerreou com Iberos e Tartéssicos e Asdrúbal conquistou todas as cidades da Ibéria. Aníbal conseguiu estender o domínio cartaginês do Atlântico ao Ebro. (MEDINA, 1994, vol. II, p.146-149)
Cartago passa a considerar-se a nova capital do mundo, após a queda de Tiro em 573 AC, controlando economicamente o comércio mediterrânico centro-ocidental e dando origem ao expansionismo cartaginês. O Tratado (Aliança) romano-cartaginês de 509 AC tem sido sistematicamente interpretado como a melhor evidência desse imperialismo de Cartago que enfrentou primeiro os gregos e, mais tarde, os exércitos romanos.

Por volta do ano 356 antes de Cristo, aconteceu um forte sismo com maremoto e esta localidade (Laccobriga) ficou destruída. Por esta altura, Bohodes, capitão cartaginês e emigrantes de Cartago, fenícios, gregos e autóctones reedificaram-na numa colina bem alta a cerca de 3 km de distância à qual deram o mesmo nome, denominaram-na Laccobriga. Só este cataclismo com a destruição do povoamento justifica este facto, de lhe darem o mesmo nome. Se o cataclismo não tivesse acontecido, seria atribuído um outro nome certamente. Esta colina mais alta – colina de Nossa Senhora da Graça – que se encontra exactamente no lado oposto ao Monte Moleão, tem três ribeiras de permeio – ribeira dos Touros, ribeira das Naus e ribeira de Bensafrim – rio de Lagos (algures entre Bensafrim e a foz do rio em Lagos, a ribeira passou a rio porque sempre ouvi toda a gente referindo-o dizer "rio".
No livro Corografia de S. Lopes e JP Rocha, menciona-se a existência de uma feira em Lacóbriga, fundada por Bohones, cartaginês, com grande afluência de estrangeiros, por volta do ano 350 antes de Cristo. Acredito que esta feira se realizava no sopé da colina de Nossa Senhora do Carmo por ser o mais longo e horizontal, pois comerciantes e visitantes vinham principalmente de barco, a grande via de comunicação destas duas localidades. (PAULA, 1992, p.351)
Em 348 AC, acontece o segundo Tratado romano-cartaginês que relata a aliança estabelecida entre Cartago e Cádiz, na sequência da ajuda militar prestada pela potência africana à antiga colónia fenícia, aquando de um ataque de iberos à sua cidade. Tratado que também foi assinado por Tiro e Útica.
Este domínio comercial cartaginês permaneceu até à derrota dos bárcidas na II Guerra Púnica. Políbio e Tito Lívio informam-nos de que em 210 AC. dois exércitos cartagineses estavam estacionados em território que, tempos depois, veio a ser português: um no Algarve e outro na foz do Tejo, comandados respectivamente por Magão e Asdrúbal. Resolvidos os problemas em África (Guerra dos Mercenários), Cartago enviou sem demora Amílcar com um novo exército para as regiões ibéricas. Levando as tropas e o seu filho Aníbal, de nove anos de idade, passou o Estreito de Gibraltar e restabeleceu a situação de Cartago na Hispânia. Passou quase nove anos nestas paragens (237-229 AC) e, depois de ter obtido a submissão de grande número de iberos quer pela guerra quer pela persuasão, morreu numa das batalhas. Os cartagineses entregaram então o comando a Asdrúbal, seu genro, mantendo-se no Extremo Ocidente até à conquista romana. (MEDINA, 1994, vol. II, p.152)

Relativamente ao nome desta ribeira – Ribeira dos Touros - apesar da pouca informação sobre o assunto, acredito que se fazia criação de gado bovino nesta colina do meio, de Nossa Senhora do Carmo e que esta ribeira seria o seu bebedouro. Baseio-me no facto de os núcleos populacionais não se situarem nesta colina que tem um sopé mais longo e largo, mas nas duas colinas laterais e, portanto, seria o lugar ideal para a criação de gado bovino e cavalar, já que os cuidadores do gado bovino usavam sempre o cavalo.

Relativamente à Ribeira das Naus acredito que este nome se deve ao facto de na foz desta ribeira se abastecerem as naus de água e mantimentos. Lacóbriga era ponto de aguada conhecido por todo o mundo de então. Também pelo facto de, na foz desta ribeira, existir uma passagem de uma margem para a outra da ribeira que fazia caminho para o norte de Portugal e que esta passagem seria ao mesmo tempo ancoradouro das naus.
O caudal da ribeira dos Touros e da Ribeira das Naus resulta só das colinas de Lacóbriga e do escoamento das suas águas pluviais para estes leitos. São percursos de poucos quilómetros e por serem consideradas ribeiras que separavam os povoamentos deduz-se que teriam água todo o ano ou praticamente todo o ano. Logo também se pode deduzir que nestas épocas, pelo menos o Barlavento Algarvio tinha clima temperado húmido e chovia com regularidade; os terrenos eram férteis e produziam com abundância, isso se deduz pela exportação dos produtos agrícolas. Acredito que se tratava de um clima semelhante ao que temos no Minho, actualmente.
Nos nossos dias ainda se pode acompanhar o percurso das águas destas ribeiras, ladeando o sopé das colinas a partir da Praça do Infante Dom Henrique para a ribeira dos Touros e a partir da Praça Gil Eanes para a ribeira das Naus, sabendo que ambas confluíam para o rio de Lagos e que cada ribeira era abastecida pelas águas das colinas que as ladeavam: para a ribeira dos Touros, a colina da Nossa Senhora da Graça e a colina da Nossa Senhora do Carmo e para a ribeira das Naus, a colina do Santo Amaro – Nossa Senhora da Glória – São Sebastião (estas duas igrejas e capela situam-se na mesma colina em níveis diferentes formando um L) e a colina da Nossa Senhora do Carmo.

Já agora, podemos apercebermo-nos que o clima desta área tem vindo a ficar cada mais seco e quente. Não tem nada a ver uma coisa com a outra, mas cada vez mais me apercebo de como somos ingratos para com a chuva e de como dependemos completamente dela para existirmos. Se tomarmos atenção à maneira como nos expressamos, verificamos que, quando está sol dizemos «que lindo dia!», «que sol tão bom», «(está sol), está bom tempo», ... quando chove, manifestamos só mau humor porque as nossa roupas ficam molhadas porque os carros atiram lama para nós porque os nossos pés ficam encharcados e os sapatos estragados, ... dizemos que está mau tempo, desejamos que o sol volte a brilhar depressa, nem sequer pensamos em nós, mas apenas na nossa comodidade e esquecemos que o sol é importante nas nossas vidas, mas continuado, seca tudo e torna a nossa existência impossível e é a água da chuva que garante a nossa existência a todos os níveis, escolhamos o que quisermos; mas ambos são essenciais para a nossa existência.
Tudo mudou no meu discurso com algo que ouvi na rádio, já há alguns anos. Um jornalista entrevistava um agricultor e dizia-lhe: «Que mau tempo temos nesta altura.» Ele respondeu-lhe "Mau tempo? Só se for para vocês, da cidade. Para nós isto é bom tempo. Então do que é que nós vivíamos, se só tivéssemos sol?" E deu-se um clique em mim. «É verdade. Este agricultor tem razão. Que grandes idiotas que somos nós, os da cidade.» A partir desse momento, cada vez que chove, digo sempre «Bendita chuva» é o mínimo dos mínimos que posso fazer a quem me dá tudo, incluindo a existência.      

Então o actual povoamento de Lagos iniciou-se exactamente na colina de Nossa Senhora da Graça, por volta do ano 356 AC, ocupando a encosta virada para a baía. No lado oposto desta encosta, eram os campos férteis de cultivo de sequeiro, pertencentes a homens-de-armas da Lacóbriga murada. Os habitantes intramuros também se dedicavam ao comércio e apenas tinham um poço. No sopé da colina, habitavam os pescadores que se dedicavam à pesca principalmente do atum e da sardinha e à apanha do coral. Estes três braços de água devem a sua existência exactamente às colinas que rodeiam Lagos. A (Nova) Lacóbriga distava 03 km do local da Lacóbriga primitiva e situava-se a 37 6 20 LTW e a 29 LGE (meridiano de Lisboa).
A pouco e pouco, os habitantes foram perdendo o medo e voltaram a repovoar a zona do paul pelas suas excelentes hortas. O núcleo primitivo volta a formar-se em torno da ermida de São João Baptista, mantendo o nome Laccobriga. Antigos geógrafos da época romana registaram a existência de duas localidades com o mesmo nome. (PAULA, 1992, p.351) Assim começou-se a chamar à da colina Nova Lacóbriga, para fazer a diferença. Lagos fica assim com três pólos de vida urbana: um de características defensivas e murado em torno da igreja de Nossa Senhora da Graça, igreja paroquial, situada no cimo da colina com o mesmo nome; o segundo, de produção agrícola e sem cerca, em redor da ermida de São João Batista e o terceiro em redor da ermida de Nossa Senhora da Conceição no cimo da outra colina, fazendo parte deste núcleo as classes mais baixas, de marítimos e comerciantes que viviam ao longo das margens do rio de Lagos.
Lacóbriga tinha dois portos: a Praia de São Roque, sem pagamento de portagem e o ancoradouro junto ao Castelo e Porta da Alfândega, com pagamento de portagem.

CAP II - Os Romanos em Lagos
Na época romana, já Lacóbriga era um importante centro populacional – cidade - com Casa do Governador Provincial junto do porto, construída pelos cartagineses. É de salientar o documento mencionado por JP Rocha no seu livro Monografia de Lagos que nos informa que «Porto de Aníbal fica junto à residência do Governador Provincial, Olin, na cidade de Lacóbriga, junto ao mar.» ((PAULA, 1992, p.353)

Na actividade arqueológica da zona foram encontradas minas exploradas na Idade do Ferro e na época romana: minas de ferro e fundição no Adoalho – a 4 km de Lagos, no caminho para Barão de São João; na freguesia de Bensafrim, no Paul e Monte Moleão, em Lagos. Foi encontrado um lagar da época romana, nos Salões da Mina – a 600 m da Fonte Velha. Também foram encontradas ruínas de termas com balneários na vila de Nossa Senhora da Luz, identificando a existência de uma cidade romana bastante ampla em Nova Lacóbriga. Trata-se de um grande edifício com várias dependências e três piscinas, uma em forma de semicírculo com pavimentos em mosaico e uma rede perfeita de canalizações que conduziam a água para os banhos e com condutas de esgoto que comunicavam com o mar. Estas termas foram construídas com grandes tijolos e tinham uma cobertura abobadada. Alguns pavimentos estão revestidos com mosaicos geométricos trabalhados em “Opus Tesselatum” bicolor e existem vários revestimentos murais em mármore. A água para estas termas vinha de uma nascente da Quinta da Luz, existindo ainda troços dessa extensa canalização. Perto foi encontrado um estabelecimento de salga formado por vários tanques revestidos de diversas argamassas. Possivelmente foi obra indígena e cartaginesa, transformada depois pelos romanos. Ela testemunha o facto da grande importância da pesca e da salga do peixe nesta zona e grande exportação do respectivo peixe. Em Lacóbriga, desenvolvem-se bastante as explorações da pesca do atum e da sardinha, a pesca da baleia e a apanha do coral que eram realizadas por concessão a sicilianos, genoveses, milaneses e marselheses porque é a época romana, mas certamente também de muitos outros habitantes de outras cidades-Estado da região.
Na área da Fonte Coberta, Lacóbriga primitiva, foi encontrada, ainda da época romana, uma magnífica obra de irrigação com muralha de represa com 2,5 m de espessura.
Na época romana também foi construída uma ponte sobre a ribeira de Bensafrim - rio de Lagos no caminho aberto para o norte de Portugal que assenta sobre os doze arcos de meio ponto de vãos desiguais e onze talhamares de prisma triangular. Se dermos atenção à ponte, actualmente denominada ponte Dona Maria, à saída de Lagos rumo a Portimão, verificamos que os seus pilares são de arquitectura românica. Então temos que a ponte é reconstruída entre 1805 e 1807, enquanto Dona Maria I era viva, mas era regente de Portugal, Dom João. A ponte chamada romana, passou a denominar-se ponte Dona Maria, em homenagem à rainha Dona Maria I. Esta ponte sempre foi muito importante como elemento de ligação entre os núcleos populacionais das duas margens do rio e da baía com o núcleo principal da população. Três núcleos, três aldeias, três locais de culto cristão.

Sobre o Castelo da Nova Lacóbriga, sabemos que foi construído para o Governador de Lacóbriga ainda antes da construção da cerca (muralhas) à volta do povoamento da Nova Lacóbriga, por volta de 356 AC. (PAULA, 1992, no esquema 1 da p.20) O castelo foi construído em tempo de paz e por isso sem muralhas. Existia uma cisterna dentro do castelo para abastecer este de água e fazer face às necessidades relacionadas com o Governador e sua família para além do poço que abastecia de água a população de Lacóbriga murada. Este foi sempre a moradia do Governador do povoamento e sua família e também lugar defensivo. A cisterna dentro do castelo existiu desde a construção do mesmo.
Quando a primeira cerca foi construída por motivos de guerra de Cartago com outros povos, o Castelo do Governador ficou agregado às muralhas e situou-se sempre onde actualmente vemos a janela manuelina das muralhas.


Planta n.º 01 (± 350 anos antes de Cristo quando o capitão BOHODES, cartaginês, criou a vila Nova Laccobriga e construiu o seu castelo. Era um entreposto comercial muito importante para Cartago) [06 – p. 20]
1.  castelo;
20. – colina (ermida da Nossa Senhora da Conceição – igreja de São Sebastião);
32. – colina (ermida da Nossa Senhora da Graça – Porta da Vila);
35. – colina (convento e igreja da Nossa Senhora do Carmo)
a. Ribeira dos Touros;
b. Ribeira das Naus;
c. Ribeira de Bensafrim – Rio de Lagos;


Planta n.º 02 (± 210 anos antes de Cristo, Cartago passa a conquistar e formar colónias, construindo um grande império e a Nova Laccobriga passa a sua colónia e a ter muralhas) [06 – p.22]
1.  – castelo;
2.  – cais;
3.   – primeiras muralhas: Porta da Vila – Estrada para Sagres; Porta dos Quartos – Estrada para Sagres e Estrada Real;
a.   – Ribeira dos Touros;
12. – Estrada Real (n.º 78);
13. – Estrada para Sagres, muito importante para o comércio dos produtos agrícolas na vila;


Planta n.º 03 - século XIII [06 – p. 33]
1.  – castelo;
2.  – cais;
3. – primeiras muralhas: Porta da Vila – Estrada para Sagres; Porta dos Quartos – Estrada para Sagres (peregrinações muito importantes ao santuário de S. Vicente e à ermida de Nossa Senhora de Guadalupe) e Estrada Real n.º 78;
4. – ermida Nossa Senhora da Graça junto à Porta da Vila;
5.  – primeiro núcleo populacional extramuros com a ermida Nossa Senhora da Conceição ao centro;
a. Ribeira dos Touros;
b. Ribeira das Naus;
8. - praia da Ribeira dos Touros
9. - espaço dedicado ao comércio
10. – praia da Ribeira das Naus

Foto do Castelo

cais foi construído com o castelo e ficava junto do castelo, conforme mostram os esquemas 2 e 3 das pp. 22 e 33.
Em 1755, o castelo ficou arruinado pelo terramoto e não foi reconstruído; permaneceu como ficou e em 1960 foi demolido.
Parece-me da maior urgência recuperar o castelo para o património histórico de Lagos, já que o castelo faz parte da arquitectura de Lagos desde os inícios do povoamento primitivo da Nova Lacóbriga. Claro que foi sendo remodelado ao longo dos séculos conforme a cultura urbanística do povo dominante na altura, mas tudo isso só enriqueceu este património.

Sobre a Lacóbriga murada sabemos que, no seguimento da tradição helénica – que, por sua vez, já tinha bebido influências nas civilizações indostânicas, egípcias e mesopotâmicas – os romanos tenderam a construir cidades regulares segundo o chamado Sistema em Quadrícula.
Claro que muitas colónias que fundaram, possuíam já o seu esquema de organização do espaço ao qual aos romanos só coube acrescentar grandiosidade arquitectónica. Quando se tratava de edificar novas urbes, normalmente nascidas a partir de acampamentos militares prévios, o espírito prático e organizador dos romanos impunha-se e resultava em conjuntos muito regulares, baseados num perímetro rectangular envolvido por muralhas como aconteceu em Nova Lacóbriga. O recinto era cortado por duas vias principais – o cardo (eixo norte-sul) e o decumanus (eixo este-oeste), situando-se o foro na intercepção dos dois, tendo à volta os templos, a cúria e a basílica. As restantes vias dispunham-se depois segundo o antigo traçado do acampamento. Ao crescimento populacional, os antigos espaços responderam com um alargamento das áreas amuralhadas, mas que tinha como finalidade proteger o elevado número de construções, entretanto efectuadas de forma caótica. Existiram núcleos irradiadores do crescimento urbano: uma igreja ou o castelo, por exemplo.
Na Nova Lacóbriga, a cerca (muralhas) foi construída à volta dela, durante a II Guerra Púnica, pelos cartagineses com os autóctones e também fenícios e gregos com o objectivo principal de defendê-la dos ataques dos invasores. 
Sabemos por documentos que no ano 76 ACcidade foi cercada pelo Cônsul Quinto Cecílio Metelo Pio, Governador da Hispânia Ulterior, com o objectivo de fazer a cidade se render pela sede, já que a população só tinha um poço dentro das muralhas, na parte Sueste (PAULA, 1992, p.57 - nº42). Foi vencido por Sertório, ex-Governador da Hispânia, que acorreu a defender Lacóbriga (PAULA, 1992, p.351), fazendo chegar à cidade 2000 odres de água que foram transportados por espanhóis e mouros (PAULA, 1992, p.21) e assim a cidade conseguiu resistir e libertar-se.

Acontece que as Hispânias foram palco das duas principais guerras civis da Roma republicana. A presença de cidadãos romanos na Hispânia, a disponibilidade dos naturais para integrarem exércitos como mercenários e a riqueza da Península foram determinantes para a sua participação nas lutas pelo poder em Roma.
Para Sertório, cidadão romano, os lusitanos e os celtiberos foram um meio de dirigir a sua luta contra Sula, de quem era opositor político. A forma como tolerava as tradições locais e a maneira como dispensava as cidades que libertava dos pesados tributos do poder central não foram atitudes inéditas. Já Cepião e Graco o tinham feito. Contudo, a atitude de Sertório contribui de forma muito significativa para a implantação da cultura românica na península e assim foi ganhando o apoio dos lusitanos e celtiberos.
Em 83 AC, Sertório foi nomeado Governador da Hispânia Citerior. Partidário de Mário na luta que este opôs a Sula, Sertório é destituído do seu cargo em 82 AC, quando Sula assume o poder em Roma, derrotando Mário. Desde esse momento, Sertório dispõe-se a lutar abertamente contra Sula e inicia na Península Ibérica a guerra contra Roma, tentando atrair para si a população nativa.
Em 80 AC, os lusitanos propõem a Sertório que os chefie. Este aceita e, nesse mesmo ano, vence as tropas romanas por duas vezes. Os exércitos de Sertório e seus lugares-tenentes Hirtuleio, Perperna e Herénio infligiram pesadas derrotas a Cecílio Metelo Pio, Governador da Hispânia Ulterior.
A partir de 75 AC, Sertório começa a sofrer derrotas: Hirtuleio é morto em Segóvia onde se refugiara, Perperna e Herénio são derrotados por Pompeio e também Sertório que é morto em 72 AC

Regressando à história da cerca da Nova Lacóbriga, esta tem a forma de quadrilátero com castelo do Governador virado para a baía e junto ao cais. A cerca rodeava o povoamento e situava-se desde o cimo da colina até ao rio, desde a costa até ao sopé da Ribeira dos Touros. Como já foi mencionado, a igreja situava-se dentro da cerca (actualmente diz-se "muralhas") e no cimo da colina, perto da Porta da Vila – a igreja e paróquia de Nossa Senhora da Graça que, após a Reconquista Cristã, é doada ao Mosteiro de São Vicente de Fora pelo Bispo de Silves e que foi refundada pelos novos povoadores milaneses, genovezes, sicilianos em Lagos.
As muralhas quadrangulares em volta da Nova Lacóbriga tinham três portas principais: uma a Norte – Porta de Portugal que tinha ponte levadiça sobre a ribeira dos Touros e donde partiam o caminho para Sagres e o caminho para o norte de Portugal passando este pela foz da ribeira das Naus com uma passagem de madeira, bifurcando este caminho perto da ponte romana para dar acesso à Lacóbriga primitiva. Havia outra porta a Sudoeste – Porta da Vila, perto da igreja de Nossa Senhora da Graça e havia outra junto ao cais – Porta da Alfândega.
Os habitantes da Nova Lacóbriga organizavam comercialmente e em grande escala a exportação de atum e sardinha em salmoura para os portos do Mediterrâneo. 

CAP III – Os Visigodos na Península Ibérica
O império romano passa por várias fases e quando começa a sua decadência com as invasões bárbaras, este estabelece um pacto de federação com os Visigodos pelo qual lhes atribuía um território para a constituição de um reino na Gália do Sul com a condição de tomarem de novo para o império romano os territórios hispânicos.
Entre 416 e 417, os visigodos vencem sucessivamente os Alanos e os Vândalos Silingos, recuperando as províncias romanas Cartaginense, Lusitânia, Bética, onde todavia os Vândalos Asdingos se mantêm até 429, quando se transferem para o Norte de África onde fundaram um reino.
Na verdade, os Visigodos estavam, de há longa data, instalados no interior do império romano. Tinham uma experiência razoável de serviço nos exércitos romanos e professavam o cristianismo na sua versão ariana que lhes conferia coesão e os demarcava do Império romano que tinha abraçado a ortodoxia cristã por decisão do imperador Constantino e promulgada lei pelo Édito de Milão em 313, sendo depois definida no Concílio de Niceia
Na Península Ibérica e com Tedósio, o imperador hispânico do Oriente, que promulga o Édito de Tessalónica, a Igreja cristã católica, enquanto instituição, adquire real preponderância pela abdicação por parte do imperador da sua prerrogativa de sumo pontífice dos cultos e o Cristianismo torna-se a Religião do Império Romano na Península Ibérica. A grande transformação que este édito introduziu foi a de estabelecer a prioridade das prerrogativas morais sobre os princípios definidos pela legislação (normas jurídicas). Os cristãos bizantinos rejeitaram a ortodoxia cristã romana também por não aceitarem a sua integração no império romano. Na Hispânia, os bizantinos estenderam o seu poder desde a costa levantina até à Andaluzia, mas sem terem chegado a dominar o Algarve.
Assim os hispano-romanos, para além de uma grande massa de população indiferenciada, incluíam as elites urbanas que ocupavam os cargos administrativos do império romano, as elites eclesiásticas que governavam as suas dioceses, os grandes proprietários rurais, ou seja, os dirigentes de uma sociedade em que frequentemente as três funções eram exercidas pelo mesmo indivíduo ou por homens da mesma família que mantinham o território em autarcia.

Nesta época, o cristianismo hispânico encontra-se bastante difundido com dioceses metropolitanas em todas as capitais provinciais e outros bispados instalados em todas as principais cidades. É este o mundo que os bárbaros vêm encontrar. A literatura cristã da época tem nas profecias do fim dos tempos um dos seus tópicos preferidos. Também é natural que a população hispânica subitamente invadida por populações estranhas, destruidoras e violentas e julgando-se abandonada pelo seu imperador, temesse pela sua segurança e dos seus bens e acreditasse que, de facto, o fim da humanidade tinha chegado.
Na verdade, o extremo ocidente peninsular viveu, nos meados do século V uma situação de verdadeira guerra civil. Os Suevos invadiam o sul, tomando Emerita, capital da Lusitânia e da diocese Hispânica e Hispalis (Sevilha), capital da Bética, um dos principais centros urbanos peninsulares. A esta situação juntaram-se levantamentos populares em diferentes regiões. Os Visigodos intervêm, por várias vezes, consolidando posições nas Hispânias como já foi afirmado.

Nos meados do século VI, o reino suevo, a norte de Portugal, isolado no ocidente, parece ter conseguido encontrar um ponto de equilíbrio entre as elites locais católicas, a realeza ariana e as respectivas clientelas: converte-se ao cristianismo na sua versão católica. A paróquia desta época constituía a célula-base da comunidade cristã.
Em 569, a sulLeovigildo inicia, no reino visigodo, uma política de centralização do poder que entra em choque com as prerrogativas e privilégios das elites regionais católicas. Esta situação é compreensível porque o rei e a componente goda da sociedade mantinham-se arianos e as comunidades hispano-romanas, católicas. Com a desagregação do aparelho burocrático do Baixo Império Romano, as elites concentraram a sua força na hierarquia eclesiástica que assim se assumiu como herdeira e natural continuadora dos antigos poderes romanos. As sedes episcopais assumiram características patrimoniais, transmissíveis dentro de uma mesma família e o património episcopal, enriquecido pelas doações dos crentes e pelas receitas de carácter fiscal, assumia características de património pessoal. Os bispos cristãos assumiam-se como representantes da tradição hispano-romana e eram os interlocutores junto do poder godo.

Em 586Recaredo, filho de Leovigildo, rei visigodo, recebeu de seu pai um reino que, pela primeira vez, coincidia com a totalidade da Península Ibérica. Além desta e outras medidas, Leovigildo estabeleceu uma nova rede de poderes, reabilitando as antigas províncias romanas à frente das quais foram colocados Duques, sediados nas cidades-capitais com autoridade sobre os Condes que constituíam um último elo da cadeia do poder. Aboliu a interdição dos casamentos mistos, procurando unificar assim a sociedade hispânica. Recaredo, seguindo as pisadas de seu pai, deu o último passo, convertendo-se ao cristianismo católico. Em 589, no III Concílio de Toledo, o cristianismo torna-se a religião oficial do Estado visigodo.

Ao longo do século VII, a Igreja Católica viu a sua importância crescer e tornou-se na instituição que conferia o aval político à monarquia visigótica.
Em 628, o rei visigodo, Suintila, expulsou definitivamente os bizantinos da Península Ibérica.
A partir de 636, os Concílios Gerais passam a reunir-se regularmente com a participação de laicos e do próprio rei e ocupando-se não só de assuntos teológicos, mas também seculares. (MEDINA; vol. III; 1994; pp.18-26).
Em paz, a vida na Península Ibérica ia prosperando. A ocupação intensiva de uma antiga zona escassamente povoada poderia fazer surgir, em torno de diversas igrejas paroquiais, vários aglomerados habitacionais que, ao aumentarem de população, acabavam por confinar uns com os outros. Uma cerca posterior iria dar-lhes a unidade que lhes faltava em termos históricos e orgânicos. Para que as muralhas cumprissem com eficácia as suas funções defensivas, tornava-se absolutamente necessário que se erguessem num ponto alto, os cimos dos montes, com boa visibilidade para a implantação dos castelos e da extensão de muralhas para protecção das casas dos povoadores. Era também indispensável que se tivesse fácil acesso a uma fonte de água potável, a um rio do qual se pudessem fazer derivações para as hortas, para os curtumes ou para as olarias. Perto instalavam-se as azenhas para moer o trigo e ainda se poderia obter um bom complemento alimentar, acrescentando-lhe peixe e marisco

Laccobriga prosperou de tal maneira que foi sede de Bispado durante o domínio visigótico, ou seja, capital de uma região durante bastante tempo e abrangia uma área bastante grande que se aproximava da Vila do Bispo, actualmente sede de concelho, mas que, na altura, era a vila tipo romana do Bispo de Lacóbriga; pelo menos, pelos documentos conhecidos, desde 622 até 716, ano em que Lagos foi invadida por Abd al-Rahman I – durante a primeira fase das invasões dos mouros. Durante todo o período da ocupação moura, Lagos, de capital de Bispado passou a aldeia de pescadores sem ninguém na área murada, tal foi a dizimação feita. Isto está provado por documento no qual Alfonso X de Castela doa a aldeia de Lagos ao Bispo de Silves, Dom Francisco Roberto, a 28 de Agosto de 1253 (MARTINS, 1992, p. 17).

Era objectivo dos mouros reduzir a capital da região, Laccobriga, a nada, matando os seus habitantes para evitar qualquer revolta que pudesse surgir. Só ficaram alguns camponeses e pescadores da Lacóbriga primitiva e parte dos campos agora sem proprietários e arrendatários foram ocupados por mouros imigrantes poucos que passaram a camponeses e pescadores usando as suas técnicas que depois permaneceram, pois eles também permaneceram depois da Reconquista Cristã. Entretanto foi urbanizada, criada de raiz a nova capital da nova distribuição política e administrativa – Silves. Do nada surge Silves que vai sendo habitada por mouros imigrantes cada vez em maior número e ganha uma grande projecção como capital de reino dentro da ocupação muçulmana e absorve Lagos com todo o seu território. Lagos passa a ser o que Silves era anteriormente à ocupação muçulmana – terra agrícola de camponeses e pescadores à beira-mar. É assim que os cristãos a foram encontrando sempre que foram recuperar o poder nas terras ocupadas e sob o domínio mouro.

CAP IV – As várias ocupações mouras
Qual a grande diferença entre as anteriores conquistas ao território de Lagos e as ocupações mouras?
Exactamente a enorme quantidade de mortos, mesmo entre as populações habitantes da região porque o objectivo era instaurar a religião muçulmana – o Islão - por todo o mundo conhecido. Para isso não precisavam dos habitantes, mas do território porque população tinham eles bastante e a se reproduzirem bem. Então a implantação do Islão por todo o mundo tinha a ver com a destruição de todos os que não professassem o Islamismo e a população europeia estava consciente e aderente ao cristianismo praticamente na sua totalidade, sendo esta religião a sua própria identidade. Logo, o objectivo era dizimar toda a população, ocupar as suas terras e bens de maneira a não deixar vestígios das culturas anteriores e os seus instalarem-se e professarem a sua fé e religião – o Islamismo - por todos os territórios conquistados, estabelecendo assim uma única religião, a sua.
Em 711, um exército formado principalmente por soldados berberes atravessou o Estreito de Gibraltar e iniciou a conquista da Península Ibérica. Estava a completar-se um século sobre a data em que Maomé iniciara, na Arábia, a sua pregação em 612. Nestes cem anos, os árabes tinham conseguido expandir a sua religião e o domínio político num imenso espaço que ia desde o Oceano Índico ao Atlântico. Esta rapidez de conquista de territórios são resultado da fraqueza dos impérios vizinhos – Império Persa e Império Bizantino – também as ferozes lutas religiosas que se travavam no Próximo Oriente entre judeus e cristãos e da existência de judeus na Península Ibérica que não aceitavam o catolicismo, religião completamente dominante, mas estavam interessados na economia florescente que se vivia na época na Península.

A ruptura do mundo hispano-godo e as disputas entre as várias facções da nobreza visigoda acentuaram-se drasticamente com a morte do rei Egica. A partir de 15 de Novembro de 700, por decreto, este rei associa o seu filho Vitiza ao poder para reconciliar os diversos focos de revoltas internas, principalmente na região da Bética romana, onde Rodrigo tinha consolidado o seu poder. Enquanto reinou (702-710), o rei Vitiza não conseguiu alcançar os objectivos do seu pai. Com a morte de Vitiza, é Rodrigo, duque da Bética, que é aclamado rei, mas os partidários de Vitiza, entre os quais os seus filhos, entram em guerra aberta contra o novo monarca.
No Norte de África, o conde Julião, governador de Ceuta e tributário do vali muçulmano, incentiva os árabes a invadir a Península Ibérica e a destruir o poder de Rodrigo, seu inimigo. Assim apoiados por Julião e chamados pelos partidários vitizanos, os árabes empreendem o primeiro reconhecimento da Hispânia em 710, comandados pro Tarif Ibn Malluk à frente de 100 homens de cavalaria e 400 de infantaria numa missão de exploração (Chejne, 1980: 19). Esta expedição foi um sucesso e Musa Ibn Nusair, emir de Ifriquia e representante do califa de Damasco, encarregou Tarique Ibn Ziyad, governador muçulmano de Tânger, de comandar a próxima expedição, de conquista. 
«Em Abril/Maio de 711, os primeiros contingentes árabes, compostos maioritariamente por berberes, atravessam o Estreito de Gilbraltar acompanhados pelo conde Julião, que era o seu conselheiro político, alguns adeptos dos filhos de Vitiza e judeus descontentes.
Primeiro, em quatro barcos, atravessam o Estreito de Gibraltar cerca de 7000 homens, logo seguidos por mais 5000. Este exército ocupa Cartaya e toda a baía de Gibraltar, convertida em base das operações de conquista, apenas com cerca de 12 000 muçulmanos decididos a morrer ou vencer.» (MEDINA, 1994, vol. III, p.48)
Nesta altura, o rei Rodrigo encontrava-se na região de Pamplona a lutar contra uma rebelião dos bascos e dirigiu-se para sul com o seu exército. O recontro de ambos os exércitos de Rodrigo e Tarik deu-se junto ao rio Barbate, na batalha de Guadalete que durou cerca de sete dias e onde o rei Rodrigo desapareceu, muitos morreram e outros desertaram. Depois desta vitória muçulmana do dia 17 ou 19 de Julho de 711, dirigiram-se para a cidade de Ecija que tomaram de assalto. Após esta segunda vitória, o exército foi dividido em vários grupos: um grupo seguiu para Córdova, outro para Málaga, outro para Granada. O grupo de Tarik dirige-se para a capital. A partir deste momento, a população que não fugiu para o Norte, juntou-se aos exércitos muçulmanos e os judeus também e serviam de guias aos comandantes muçulmanos. Ou aderiam ou morriam.
Entre 711 e 712, as conquistas de Tarik centram-se em direcção ao Norte de Espanha para a região de Toledo e serranias centrais. Perante o êxito das conquistas, em 712, o próprio governador do Norte de África desloca-se à Península Ibérica com um exército de cerca de 18 000 homens, na maioria árabes. Entre eles vários representantes da nova aristocracia dos sucessores do Profeta, chefes kaisitas e yemenitas acompanhados das suas clientelas.
Muça Ibn Nusair empreende as conquistas da Andaluzia Ocidental e do sul da Lusitânia. Ocupa definitivamente Medina Sidónia e Carmona, dirigindo-se, após para Sevilha, provavelmente a partir de Alcalá de Guadaira. A cidade de Sevilha oferece resistência e é tomada pela força em Julho-Agosto de 712, ficando os judeus encarregados da sua defesa. Parte da população foge para Mérida e Beja. O recontro entre mouros e visigodos é duro e prolongado nesta região da antiga Lusitânia. Muça percorreu a calçada romana do Itinerário de Antonino que chega a Mérida por Itálica. O cerco a Mérida prolonga-se por vários meses e a cidade acaba por ser conquistada por capitulação no dia 30 de Julho de 713.
Entretanto os cristãos que se tinham refugiado em Beja e Huelva voltam novamente a Sevilha e o emir envia o seu filho, Abd Alaziz, para calar a revolta. É nesta altura que conquistaram o Baixo Alentejo e Algarve. Segundo o historiador Ibn Muzain, Beja e Ossónoba (Faro) submeteram-se pela força e pelo terror e Beja ficou entregue a Abd al-Jabbar ben Abi-Salama que entrara na Andaluzia com Muça. Em Beja, estabelecem-se ainda os yemenitas, kalbitas e os ausaris, de origem medinense (Domingues; 1988; 23-24).
É Abd Alaziz que conquista toda a Andaluzia, o principado de Teodomiro (Múrcia), as conquistas das cidades de Évora, Santarém e Coimbra; em 714, a conquista de Lisboa.
Nos finais de Julho de 713, Muça sai de Mérida e seguiu a via romana até à região de Cáceres, inflecte depois para Saragoça e Toledo e encontra-se com Tarik nos campos de Talavera. Seguiu para os territórios do Norte da Lusitânia e da Galiza, conquistando os castelos de Viseu e Lugo. As conquistas da antiga Lusitânia foram planeadas em conjunto por Muça e Abd Alaziz. A partir de Viseu conquistaram o Porto (Portucale) antiga capital da Galæcia (Bracara Augusta) e a cidade de Tui.

A partir de 713/714, a Península Ibérica está na posse dos muçulmanos até à região de Gijón. Em 714, Abd Alaziz torna-se o primeiro governador da Andaluzia com residência em Sevilha. Por razões políticas, casa com a viúva do rei Rodrigo que é convertida ao Islamismo.
Para os exércitos árabes, o importante era conquistar as cidades metropolitanas e as capitais de diocese visigodas e aqui insere-se Lacóbriga, tomada em 716. As pequenas cidades dependentes destas passavam automaticamente para as mãos de muçulmanos, auxiliados por judeus e cristãos que preferiram converter-se ao vencedor a morrer.
Nos territórios conquistados pela força, Muça repartiu-os «entre os militares que vieram à conquista, da mesma maneira que distribuíra entre os mesmos os cativos e demais bens móveis colhidos como presa. Deduziu o quinto das terras e dos campos cultivados, do mesmo modo que deduzira antes o dos cativos e objectos móveis. Dos cativos escolheu cem mil dos melhores e mais jovens e mandou-os ao emir dos crentes, Alualide Ibn Abd Almálik, mas deixou os outros cativos, especialmente camponeses e meninos, adstritos às terras do quinto a fim de que cultivassem e dessem o terço dos seus produtos ao Tesouro Público.» (Coelho; 1972; p. 157)
Durante o curto mandato de Abd Alaziz (714-716) e até 756, os muçulmanos tentam consolidar o poder e prosseguem as conquistas em direcção à região subpirenaica até 734, data da batalha ganha por Carlos Martel, os árabes dominaram a Narbonense, vale do Ródano, Borgonha e Aquitânia.
Os exércitos de Tarik trouxeram inúmeros berberes à Península Ibérica e os de Muça trouxeram os dois principais grupos da aristocracia árabe e com eles as rivalidades existentes no Oriente. A conquista foi rápida e fácil, agora surgia o mais difícil: contentar as ambições dos diversos grupos participantes nesta grande invasão.
A fase da conquista muçulmana foi dominada pela destruição e terror instigado às populações dizimadas. Na segunda fase, da consolidação do poder e pacificação dos sobreviventes, foi usada uma política de tolerância, crendo-se que os possíveis revoltosos cristãos estariam mortos e ganhando consciência de que não tinham gente suficiente para colonizar tão grande território. Desta política de tolerância, fazia parte deixar a população camponesa que os aceitou, não ser obrigada a converter-se ao Islamismo já que eles queriam apenas fazer o seu dia-a-dia; mas pagavam tributos sobre as suas colheitas e o imposto de capitação, por não serem muçulmanos. Os que aderissem ao Islão não pagariam este imposto e teriam as regalias dos irmãos de fé.
Contudo, depois de tanta destruição e clima de terror, o problema para os muçulmanos não surgia dos cristãos indígenas, mas sim das lutas entre si: os kaisitas e yemenitas que se opunham aos outros árabes e berberes. Os berberes, descontentes com a sua condição de muçulmanos de segunda, revoltam-se no Norte de África, em 740, tomam Tânger e iniciam uma rebelião na Península Ibérica, nomeadamente na Galiza, no Norte da Península atingindo até Cória, Talavera, Mérida e outros lugares (Dozy; 1984; p. 233). O governo de Damasco envia um contingente de tropas originárias da Síria, da Palestina, Jordânia e Egipto que derrotam os berberes no Norte de África e deixam árabes e após, entram na Península Ibérica, em 741. Foram apoiados pelos kaisitas e instalam-se no poder o que vai originar lutas agora entre árabes. Era comum os governadores muçulmanos serem repentinamente substituídos ou assassinados por outros muçulmanos de grupos opositores. Só a partir de 743, é feita a primeira divisão muçulmana do território em circunscrições ao mesmo tempo militares e feudais.
Entretanto, em 750, o império Omíada é destruído e o califa de Damasco com os seus familiares são assassinados e a família dos Abássidas tomam o poder. Um dos filhos do califa Omíada de Damasco consegue fugir, passando pela Palestina, Norte de África, Ceuta e Peninsula Ibérica, onde chega em 755. Tem os apoios dos yemenitas e dos clientes omíadas e rapidamente consegue mais apoiantes e faz-se aclamar emir, na cidade de Archidona e toma o poder em Córdova onde governou durante 32 anos, mas com muitas lutas pelo seu poder e revoltas locais e regionais.

Em 763, o califa Abássida nomeia governador para o Andaluz e proclama uma revolta contra o emir omíada no distrito de Beja e todo o sul de Portugal. Entre 766 e 777, acontecem várias revoltas na região de Niebla e entre os vales do Tejo e do Guadiana.
Entretanto, alguns cristãos comandados por Pelágio refugiam-se nos Picos Asturianos, prontos a iniciar a revolta contra os mouros.  O primeiro recontro entre cristãos e mouros aconteceu em 722, na batalha de Covadonga.
No reinado de Abd al-Rahmam I e nos seguintes, Córdova começa a desempenhar o papel de capital muçulmana da Península Ibérica e no Norte a linha de fronteira com os cristãos mantém-se ao longo do curso do rio Douro. No lado dos muçulmanos, durante o século IX, os omíadas esforçam-se por consolidar o seu poder contra o poder abássida de Damasco e revoltas organizadas por berberes, árabes ou muladíes desde Córdova, alastram-se por Zaragoça, Toledo e Mérida.
Perante a revolta de Mérida, em 868, o emir de Córdova, ataca Mérida, destruindo a ponte e obrigando os revoltosos, que queriam independência de Damasco, e as suas famílias, chefiados por Ibn Marwan, de uma família de muladíes, a morarem em Córdova.
Estes fogem de Córdova, em 875 e ao fim de três dias chegam ao castelo de Alonge, onde se fortificam. Cercados durante três meses, são obrigados a pedir a paz, sendo-lhes concedida a permissão para morarem em Badajoz, capital da Marca Inferior (divisão administrativa) e sede do reino Aftássida. A partir daqui, Ibn Marwan e os seus apoiantes continuam a atacar o poder da Península de Damasco. A região entre Santarém e Coimbra é atacada por Xurumbaqui e Ibn Marwan ataca e saqueia a cidade de Lisboa, depois parte para o Alto Alentejo até à cidade de São Salvador de Aramenha (na época romana), junto do rio Sever e dirige-se para o castelo do Marvão (Marwan – ainda actualmente mantém o seu nome). Ataca igualmente Sevilha, Niebla, Faro e Monte Sacro (Cabo de São Vicente) e tudo anexa a Badajoz.

A partir de 888, este movimento de rebelião transforma-se em guerra civil. Formam-se vários principados, salientando-se o de Ibn Málik em Beja e Mértola e o de Ibn Bacre em Faro, onde se constroem fortes muralhas e diversos edifícios que tornam esta cidade uma praça forte com o aspecto de capital. Devido à sua boa administração, o emir Abd Allah dá a Ibn Bacre o governo de toda a província com a capital em Silves.

Também cruzados europeus atacam a Península. Em 844, dá-se o primeiro ataque cristão normando à cidade de Lisboa por mar. Em 859, sobem o rio Guadiana até próximo de Beja. O califa de Córdova é informado destas incursões e envia uma frota de navios que derrotam os normandos em Silves no rio Arade. (MEDINA; vol. III; 1994; pp.53-54)
Devido a estes primeiros ataques Abd al-Rahmam II ordena a construção de portos defensivos nas costas atlânticas. Temos, por exemplo, a fortaleza da Arrifana na costa ocidental do Algarve. É também nesta altura que se cria uma importante frota de guerra, iniciando-a com a construção de arsenais e estaleiros navais, entre os quais se salienta os de Lisboa, Alcácer do Sal e Silves.
Quando, em 913Abd al-Rahmam III sobe ao poder, a sua primeira preocupação é dirigir campanhas militares contra os principados independentes muçulmanos para obter a paz interna. Até 927/29 submete sucessivamente toda a Andaluzia, atacando diversas vezes Badajoz e dirige-se para Beja onde Ibn Málik se rende e é destituído dos seus poderes. Segue depois para Ossónoba (Faro) onde chegou em Agosto de 919. No caminho, torna-se senhor de Ourique e apodera-se das riquezas, provisões e armas que encontrou pertencentes a Ibn Bacre (Coelho, 1972, p.209). Ossónoba entrega-se sem luta e assim mantém-se a governar a província, mas só em 929, o emir Abd al-Rahmam III consegue acabar definitivamente com os focos de revolta no principado independente de Badajoz

Por outro lado, os reinos cristãos de Leão, Navarra e Castela com os próprios reis a comandar, tentam recuperar os territórios ocupados pelos muçulmanos e Ordoño II consegue provocar razias em Évora e fazer prisioneiros. O emir com as suas campanhas militares consegue manter defendidos os territórios que abrangiam a proximidade das Marcas. No fim do seu reinado, o emir Abd al-Rahmam III tinha conseguido a pacificação no interior do país e o controlo efectivo das fronteiras, contendo o avanço cristão ao longo do Douro e da Meseta Norte. Também estendeu a sua influência à costa ocidental do Norte de África, contendo o avanço dos Fatímidas, estabelecidos na actual Tunísia e com base na cidade de Kairuan. É proclamado califa e príncipe dos crentes em 929 e a partir dessa data os califas de Córdova governam com prestígio, rodeados de uma corte de luxo e ostentação inigualável nos Estados ocidentais da época.

Sucede-lhe al-Hakam II e com a sua protecção, Ibn Abi Amir,
 futuro Almançor, inicia a sua carreira política, ascendendo, em pouco tempo, a magistrado da polícia de Córdova. Efectua uma reforma no exército e forma uma milícia de berberes (mouros) para seu prestígio pessoal. Comportando-se como verdadeiro califa, empreende, a partir de 976 e até 1002, quando morre nos campos de batalha de Medinaceli, mais de 30 campanhas militares com o espírito de guerra santa contra os reinos cristãos vizinhos. Entre as mais importantes destacam-se a da Catalunha a partir da Marca Superior e a de Santiago de Compostela a partir da Marca Inferior. Antes da sua entrada na Galiza, preparou detalhadamente uma boa retaguarda defensiva no centro e no norte de Portugal. Em Outubro/Novembro de 981, empreende as campanhas de Trancoso e Viseu que estava cristã por ter sido reconquistada por Dom Afonso III e assim volta novamente para a posse dos muçulmanos e só em 1028, Afonso V de Castela tentará recuperá-la, mas sem êxito perdendo a sua vida (MOLINA, 1981, p. 245). Entre 986 e 990, Almançor permanece na região do Baixo Mondego em Condeixa, Coimbra e Montemor-o-Velho. Em 995, ultrapassa o rio Douro e ocupa o castelo de Aguiar de Sousa (ALMEIDA, 1978, p. 28).
Em Julho de 997, considerando já tudo conseguido para o êxito, inicia a expedição a Santiago de Compostela. Reúne uma frota em Alcácer do Sal de onde partiam corpos de infantaria, aprovisionamento e armas em direcção ao Porto. A partir daqui o caminho seria retomado por Valadares com a ajuda de outros contingentes chegados por terra. A região de Viseu/Lamego, na Beira Alta, serviria como ponto de retaguarda e é em Lamego que, depois da conquista, fizeram a partilha dos despojos (COELHO, 1972, pp. 256-262).
Nas últimas décadas do século X, à medida que se fortalecia o prestígio de Almançor, diminuía o poder dos omíadas. Depois da morte deste, Almançor, em 1002, os seus filhos sucedem-lhe no governo de Córdova. Os mercenários mouros, introduzidos no exército durante o século X, formam um partido forte e activo – os Hammuditas – que, a partir de 1009, provoca a revolta dos cordoveses. A cidade de Medina Azahara é pilhada e incendiada e a população foge para as montanhas. Inicia-se um período de guerra civil que, em 1031, destrói definitivamente o califado omíada e inicia a fragmentação do Andaluz em mais de vinte Estados independentes e prontos a combater-se mutuamente. São reinos de taifa – um partido, uma bandeira – com afinidades de origem étnica.
No Garb al-Andaluz, o primeiro reino a tornar-se independente foi Huelva, em 1012/13 que incluía parte do Algarve. Desde 1028 e em 1048/49, Silves formou-se também reino independente. Os Banu Muzain passam a governar os territórios afectos a esta cidade, estabelecendo a sua autoridade e organizando solidamente a sua defesa (COELHO, 1973, P. 68). As cidades de Évora, Elvas, Lisboa, Santarém e Coimbra passam a pertencer ao reino aftássida de Badajoz que, desde 1022, domina uma extensão territorial de 90 000 km2. A Norte, o vale do Douro separava o reino de Badajoz do reino de Leão e a Sul, a linha que passava pelo Cabo de Sines até Beja, separava-o do reino de Sevilha. Em 1023, passa a ser governado por Almutadid, da família dos Abadidas e, a pouco e pouco foi alargando as suas fronteiras para Sul e para Oeste. Anexa Mértola, em 1044 e Huelva, Santa Maria do Ocidente (Harum para muçulmanos - Faro) e Silves em 1051/52. Após a morte de Almutadid, é o seu filho, Almutamide, que passa a governar o reino de Sevilha. Amigo íntimo de Ibn Amar de Silves, dá-lhe o título de vizir e o governo da cidade de Silves e seus territórios.
Entretanto, neste século XI, os reinos cristãos de Aragão, Navarra, Leão e Castela fazem os impossíveis para reconquistar os territórios ocupados. Fernando I, rei de Leão, empreende com êxito, as conquistas a sul do Douro, fazendo recuar a Marca Inferior até à linha do rio Mondego. A partir de 1057/58, os cristãos conseguem reconquistar Lamego, Tarouca, Balsemão e ainda o castelo de São Martinho dos Mouros. Fernando I também reconquista Viseu, Travanca e os castelos de Seia e Gouveia na Serra da Estrela. Em 1064, reconquista a cidade de Coimbra e os seus castelos, Santarém. Em 1085, o rei Afonso VI reconquista Toledo e a Marca Média passa para o vale do Tejo. Os reinos de taifas sentem-se impotentes e pedem auxílio aos almorávidas (mouros), apelando a uma guerra santa.
Em 1086, os almorávidas dirigem-se para Sevilha. Perto de Badajoz, Afonso VI alcança-os e em Zalaca dá-se a batalha com grande êxito para os muçulmanos. Entre 1088/90, os muçulmanos acabam com os reinos de taifas e o Andaluz volta a estar reunificado e mais alargado, incluindo o Norte de África desde a Tunísia e o deserto do Sahara até ao rio Mondego com o governo centralizado em Marraquexe. A norte do rio Mondego surge o Condado Portucalense, fundado por Dom Henrique, que reconquistou estes territórios em exércitos de cruzados. Os muçulmanos continuam a sua guerra santa e em 1108, os cristãos voltam a sofrer tremendas derrotas em Uclés. Os muçulmanos voltam às suas guerras internas, desta vez entre os al-muwahhid (almóadas) e os almorávidas (mouros). Descontentes com o predomínio africano, o Andaluz volta a fragmentar-se em pequenos Estados independentes entre 1144/45.
Esta crise favorece o avanço dos exércitos cristãos que reconquistam Calatrava, Santarém e Lisboa em 1147. Os almóadas, ajudados por Ibn Caci retomam Silves e dão-lhe o seu governo. Ibn Caci alia-se a Dom Afonso Henriques para manter-se no poder e é assassinado pelos muçulmanos da cidade.
Até 1050/56, os almóadas reunificam o cada vez mais reduzido território muçulmano Andaluz e organizam um forte sistema defensivo com a construção de novas fortificações nas quais colocam gente da sua confiança.
O avanço cristão é irreversível. O rei português Dom Afonso Henriques consegue elevar o seu condado a reino independente, em 1143 e em 1179, investe com os seus exércitos para terras de Além-Tejo, política que é continuada pelos seus sucessores no reino de Portugal.
Em 1189, o rei Dom Sancho I ataca, em duas expedições, a costa do Algarve e, com a ajuda de cruzados, conquista Silves e todo o ocidente algarvio.
Em 1190, o emir almóada de Sevilha – Ycube - retoma as praças do Alentejo com excepção de Évora e ataca Torres Novas e Tomar.
Em 1212, os reis cristãos de Portugal, Castela, Navarra e Aragão coligam-se e vencem os muçulmanos na batalha de Navas de Tolosa. Entre 1227 e 1238 são definitivamente reconquistadas as importantes cidades de Badajoz, Córdova e Valência. Sevilha, a capital do Andaluz foi reconquistada em 1248. Entre 1248/49, todo o Algarve é finalmente definitivamente libertado para os cristãos, graças à acção conjunta do rei português Dom Afonso III e de Dom Paio Peres Correia. (MEDINA, 1994, vol. III, pp.48-63)    

Relativamente a Lacóbriga, sabemos que, de 418 (PAULA, 1992, p.146) a 716, os visigodos implantaram a sua cultura e receberam a cultura local nesta área, adoptando a religião cristã romana - católica. Elevaram a cidade Lacóbriga a sede de Bispado e deste período temos a Vila do Bispo, certamente morada do Bispo de Lacóbriga (Lagos). No ano 622, ao aparecer no Concílio de Toledo um bispo que se assinou por Servus Dei Episcopus Ar Lacobrigensis, (o Servo de Deus Bispo de Lacóbriga) sendo Sisberto, arcebispo de Toledo, depreende-se que Lacóbriga era, sede de Bispado.
Em 631/633, no Concílio de Toledo assina em 13.o lugar com o nome de Servus Dei Episcopus Calabriensis Subscripsi pela Diocese Lacobrigense, o seu bispo.
Na época do Papa Honório I, de Lacóbriga, o seu bispo assistiu ao 4.o Concílio.
Na época do Papa João IV, o bispo de Lacóbriga assistiu ao sexto Concílio.
Na época do Papa Teodósio, o bispo de Lacóbriga assistiu ao sétimo Concílio. Segundo documentos, depois:

Em 716, Lacóbriga foi tomada pelos mouros.
Por volta de 850, é libertada e volta a ser cristã.
Em 912, volta a ser tomada pelos mouros.
(...), volta a ser cristã.
Em finais do século X, volta a ser tomada pelos mouros.
Em 1189, é libertada e volta a ser cristã. O rei português Dom Sancho I doa então a aldeia de Lagos (sem ninguém a morar na parte murada) ao Mosteiro de São Vicente de Fora.
Em 1190, a igreja da aldeia de Lagos, ermida de São João Baptista, foi doada pelo bispo de Silves ao Mosteiro de São Vicente de Fora.
Em 1191, volta a ser tomada pelos mouros.  
Em 1198, é libertada e volta a ser cristã. Esquadras de Cruzados libertam toda esta zona.
(...), volta a ser tomada pelos mouros.
Em 1227, é libertada e volta a ser cristã.
(...), volta a ser tomada pelos mouros.
Em 1241, é libertada e volta a ser cristã, permanecendo cristã depois de muitos anos de luta durante o domínio mouro. Nesta altura é reconquistada, sob a chefia de Dom Paio Peres Correia. (PAULA, 1992, p.354).
Em 1258, o rei Alfonso X de Castela doa a aldeia de Lacóbriga ao bispo de Silves, Dom Frei Roberto.
Contudo, os mouros continuaram a tentar conquistar Lacóbriga ainda durante os séculos XIV (PAULA, 1992, p.355) e XVI (PAULA, 1992, p.361).
O rei Dom Sebastião, em 1573, torna Lagos novamente sede de Bispado e capital do Algarve.
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CAP V - LAGOS qual fénix renascida – LAGOS Medieval
Quando Lacóbriga foi reconquistada pela última vez, voltando a ser e permanecer cristã, mas com ainda muitas tentativas posteriores a esta data dos mouros para retomá-la só que sem sucesso da sua parte; Lagos era uma aldeia com uma igreja, a ermida de São João Baptista. Ninguém morava intramuros da Nova Lacóbriga nem arredores.

Sabendo da reconquista cristã, por volta de 1190, aportam a Lacóbriga genoveses, milaneses, sicilianos,… e verificando que é terra deserta, avançam pelo rio adentro e vão ao encontro da primitiva Lacóbriga. Lá sabem que aquelas terras pertencem ao bispo de Silves e ao Mosteiro de São Vicente de Fora.
Dirigem-se a Silves e falando com o bispo propõem-lhe povoar toda aquela área da Nova Lacóbriga. Aquela terra de Lacóbriga (= lagos de Brigo) passa a chamar-se Lagos. O documento é passado e eles partem felizes para as suas terras, regressando com as suas famílias. Ocupam Lagos murada para defesa e para os mais privilegiados e os pescadores vão habitando junto ao rio.
Agora Lagos, sob a administração e propriedade do Mosteiro de São Vicente de Fora, começa a povoar-se, a ter privilégios e a expandir as suas exportações. Surgem vários edifícios religiosos, principalmente ermidas, erguidos pelos arrendatários das armações que se constituíram em confrarias. São fundadas companhias para o desenvolvimento do comércio.
Lagos volta a receber foral desta vez pelo rei Dom Dinis, "visto assim o foral verdadeiro e antigo da dita vila dado por el rei Dom Afonso que foi Conde de Bolonha" segundo documento de 01/06/1304.

Em 1241, Lagos tem o núcleo de habitantes intramuros com a sua ermida, a ermida de Nossa Senhora da Graça, o castelo defensivo nas muralhas próximo do cais de então, o núcleo da foz da ribeira da Fonte Coberta e de São João (com a ermida de São João Baptista que ainda hoje existe) ao redor do rio de Lagos e do paul, terras de muito boas hortas e o núcleo que rodeava a ermida da Nossa Senhora dos Aflitos (na altura denominada ermida de São Pedro do Pulgão porque certamente este era também um núcleo de pescadores cristãos que tinham em São Pedro o seu patrono que defendia as suas redes do pulgão que devastava os peixes pescados).  

Principalmente a partir do século XIII, perto das cidades e vilas criaram-se feiras que, periodicamente, reuniam comerciantes da região e até de mais longe. Constantemente, os caminhos eram percorridos por mercadores itinerantes, os almocreves, que no dorso de um burro ou mula, levavam a todas as povoações o que lhes fazia falta.
As comunidades de aldeões viviam em estreita ligação com a natureza, mas estavam presentes no mercado semanal com os produtos da terra que tão necessários eram ao abastecimento da urbe. Eles não chegavam a entrar na zona muralhada a não ser quando, no final das vendas, precisassem de comprar uns sapatos, um fato, um tonel, novas alfaias agrícolas, ... todos eles fabricados pelos mesteirais da urbe. O mercado dos artigos de primeira necessidade realizava-se, quase sempre, junto a uma das portas da muralha, mas no seu exterior, num espaço vazio do comum, num rossio (em Lagos no espaço correspondente à actual Praça do Infante Dom Henrique). Nesse mesmo rossio, realizavam-se as festas comunitárias como os torneios e justas, touradas.
Em redor da muralha ficavam os ofícios mais poluentes – curtumes, ferrarias, matadouro, ... - e os que exigiam abundância de água. Junto do rio, ficavam as oficinas dos oleiros e dos trabalhadores dos couros. Perto também ficavam as vinhas e os olivais. Só depois se estendiam os campos de trigo, entremeados pelas aldeias e que avançavam à medida que prosseguiam as arroteias. (MEDINA João; História de Portugal; vol. III; 1994; pp.249-62)

Na Europa, o século XIV vive por todo o lado, crises de subsistência que trazem consigo a fome a uma população que vivia permanentemente no seu limiar. Tinha-se chegado a um patamar em que a produção dos bens alimentares já não acompanhava o crescimento populacional, tornando inevitável uma quebra que termina de uma forma catastrófica. Quando se dá a quebra demográfica, a solução encontrada pelo senhor é aumentar a renda sobre os camponeses na sua dependência ou variar as suas fontes de renda.
Por outro lado, iam surgindo os primeiros centros urbanos que levaram os homens a um movimento geral de abandono das terras cultivadas que assim passaram a ser destinadas à criação de gado que ganha cada vez maior importância assim como ao plantio de vinhas novas e olivais que não substituem o pão que falta, mas dão bom rendimento aos senhores.
Esta carência alimentar vai enfraquecer fisicamente os homens e mulheres, amplificando os efeitos da Grande Peste, que alastra entre 1347 e 1349, abrangendo a quase totalidade da Europa Central e Ocidental, desde a Escandinávia até ao extremo sudoeste de Portugal. Ir-se-á manter endémica, reaparecendo e desaparecendo mesmo durante o século XV com uma intensidade variável, mas sempre inferior ao choque inicial. Provocou uma substancial redução na população europeia que só no século XVIII vai conseguir alcançar os níveis atingidos no século XIII.
Às crises alimentares e epidémicas, junta-se a guerra. Trata-se do primeiro e mais prolongado dos conflitos militares internacionais, já com as seguintes características: grande poder de devastação, consequência natural do uso de mercenários e quase todos os reinos e principados do Ocidente envolvidos, directamente – Inglaterra, França e Flandres; indirectamente – Castela e Portugal. Só será resolvida esta guerra nos meados do século XVI.     
Numa adaptação à situação, desde meados do século XIV, ocorre um movimento, permitido e promovido pelo rei, de uma crescente senhorialização dos poderes públicos em determinados espaços: numerosas terras, antes dependentes do rei, são entregues a senhores que aí cobram impostos em nome da Coroa, mas em proveito próprio e administram a justiça – actividade rendosa sobre todas já que o sistema penal assentava quer no castigo corporal quer em multas ou coimas.
Estava a terra nas mãos de proprietários da vila ou cidade murada ou de senhores eclesiásticos. Os primeiros integravam-se em estruturas concelhias e dominavam os circuitos comerciais e produtivos. Na cidade ou vila, estes proprietários interferem nas leis dos preços ao colocarem os seus produtos no mercado. Também arrendam terras senhoriais. O recurso a um rendeiro por parte do senhor assegurava uma ligação muito estreita do senhor com a reserva, permitindo-lhe retomá-la no fim do contrato. Libertava-se o senhor de uma vigilância estreita da terra, dos encargos com pessoal e da incerteza da produção para se assegurar de um capital certo com o qual podia, antecipadamente, contar e julgar do seu investimento em períodos de grande instabilidade.
Outro estrato social dos centros concelhios são os assalariados que acorrem a cidades e vilas, oferecendo-se como mão-de-obra para o serviço da lavoura. Buscavam os concelhos que lhes ofereciam melhores salários à jorna. Escolhiam os patrões a quem servir e preferiam os homens privilegiados das vilas e cidades. De 1365 a 1393, as jornas aumentaram 16 vezes mais.

Assim vão surgindo as urbes como as define A. H. de Oliveira Marques, trata-se de uma «cidade que é apenas uma aldeia maior, ou seja, um centro de organização e distribuição agrícola, onde comércio e indústria são actividades subsidiárias (...) e os seus habitantes proprietários rurais das quintas em redor.»1
Algumas, mais tarde, devido à força do comércio marítimo e da influência de gente extrarregional, atingiram um desenvolvimento e estruturas urbanísticas semelhantes aos burgos europeus:
  • um elevado número de habitantes concentrado num espaço normalmente delimitado por muralhas ou em pouco as excedendo,
  • diversidade de actividades económico-profissionais,
  • existência de um grupo de indivíduos que se destacava dos restantes pelas suas funções de cariz militar e pelo seu poderio económico que os levava a elevarem-se socialmente no conjunto da população e que lhes permitia ascender aos cargos de governação local.
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Outro facto importante são as cartas de foral que são atribuídas a cidades e vilas para o cumprimento de determinados objectivos:
  • povoamento de uma região;
  • defesa de uma fronteira e captação de efectivos militarizados para a sua defesa;
  • incentivo ao estabelecimento, em determinados pontos, de povoadores úteis –  cavaleiros, cruzados, eclesiásticos, ... (MEDINA; vol. III; 1994; pp.220-261).
Em Lagos, durante este século XIV, o rei português concede isenções e privilégios à pesca. Segundo documento de 22 de Dezembro de 1305, o rei Dom Dinis concede licenças para lançamento de armações de atum a Lagos. Na mesma época, sicilianos introduzem a pesca da baleia na Praia Nossa Senhora da Luz (vulgarmente Praia da Luz). A pesca do atum, da baleia e a apanha do coral no concelho de Lagos rendiam à coroa portuguesa entre 60 a 80 contos anuais. Existiam, nesta altura, 22 armações para a pesca da sardinha em Lagos. O Algarve exportava vinho, frutos secos, baleia e atum em salga e coral para os povos do Mediterrâneo e Norte de África.
O núcleo extramuros foi escolhendo como centro paroquial a ermida da Nossa Senhora da Conceição por ser a mais alta das proximidades e frequentada pelas classes mais baixas de pescadores e comerciantes que iam ocupando os terrenos próximos da margem ao longo do rio de Lagos para a sua actividade comercial.
Também na época do rei Dom Dinis, é construída a ermida da Nossa Senhora de Guadalupe entre as povoações da Figueira e da Raposeira que ainda existe. Nesta época, também já existe a ermida de São Vicente no cabo de São Vicente; “ermida que terá sido reconstruída após a Reconquista do Algarve aos mouros em 1249. Entre os poucos documentos que temos da sobrevivência do culto no cabo de São Vicente é de mencionar uma carta de 04 de Setembro de 1316, onde o rei Dom Dinis alude a um herdamento que Dom Afonso III doara para hospitalidade dos que iam em romaria à ermida de São Vicente do Cabo e recomenda ao Bispo de Silves, Dom Afonso Anes (1313-1331) que cuide da Capela e do que for necessário aos romeiros” (GRACIA, 1990, pp.35-36). São edifícios religiosos principalmente ermidas, erguidos pelos arrendatários das armações de pesca que se foram constituindo em confrarias.

Em 1309, Lagos sofre mais um sismo. (PAULA, 1992, p.147)
Do inventário do património religioso realizado em 1325, encontravam-se intramuros:
  • A igreja e o hospital da vila.
  • O templo e o hospital dos gafos (leprosos).
  • O templo de Santa Bárbara.
  • A igreja da Nossa Senhora da Graça.
Estavam extramuros e eram afectos à ermida de Nossa Senhora da Conceição:
  • a ermida da Nossa Senhora da Conceição (onde actualmente é a igreja paroquial e matriz de São Sebastião porque amadrinhou a igreja do Sargaçal) situada extramuros e frequentada por marítimos, comerciantes e outros das classes mais baixas.
  • A ermida de São Pedro do Pulgão (actualmente de Nossa Senhora dos Aflitos).
  • A ermida de São João Baptista reconstruída em 1174 (PAULA, 1992, p.354) que ainda existe  actualmente.
  • A ermida de São Roque onde se curavam os “empestados” (leprosos)(PAULA, 1992, p.64) na Praia de São Roque (actualmente também conhecida por Meia-Praia) que vai desde o rio de Lagos até à ria de Alvor. A outra metade da praia vai da ria de Alvor até à praia da Rocha em Portimão.
  • A ermida de São Lázaro que se situava entre a ermida de São João Baptista e as segundas muralhas (do rei Dom Manuel I) da cidade. (PAULA, 1992, p.64)
  • A ermida de Santo Amaro perto da actual Escola Secundária Júlio Dantas. (PAULA, 1992, p.355)

Em 1332, ainda os mouros faziam incursões na nossa costa e vila de Lagos para tomá-la e dominá-la como o prova carta do Alcaide de Lagos, Dom João Lourenço, dirigida ao rei Dom Afonso IV onde expõe as incursões dos mouros e a necessidade de manter a vila bem fortificada desde o seu Castelo.  
Em 1339, os muçulmanos merínidas tentam recuperar os territórios peninsulares mais uma vez. O príncipe Abd al-Málik desembarca na Península, mas é derrotado e morto por uma armada castelhano-aragonesa.
Em 1340, o sultão marroquino, Abu Halaçane, atravessa o Estreito de Gibraltar e as forças navais cristãs são derrotadas a 16 de Abril de 1340. Perante a gravidade da situação, a rainha Maria de Castela, portuguesa de nascimento, pede auxílio ao pai, o rei Dom Afonso IV que avança para Andaluzia com mil lanças e alguns nobres principais. Afonso XI de Castela e Afonso IV de Portugal reúnem-se em Sevilha e daí partem para Tarifa a 20 de Outubro. Nas terras da ribeira do Salado dá-se a batalha muito longa, muito aguerrida, com muitas mortes e mutilados de ambos os lados, mas os cristãos saíram vencedores. Desta feita, o declínio mouro na península tornava-se irreversível ((MEDINA; vol. III; 1994; pp.142-144).
Em 1347, Lagos sofre também a epidemia da peste (PAULA, 1992, p.147).
Em 1361, segundo recenseamento da altura, havia dentro da vila de Lagos 1000 fogos com 4500 habitantes. As explorações de almadravas e explorações de acedares, a pesca da baleia e a pesca do coral são realizadas por concessão a sicilianosgenovesesmilaneses e marselheses. A gente da quarta esfera, os negociantes, os marítimos que tratavam das almadravas (armações para a pesca do atum) e de 22 acedares (armações para a pesca da sardinha) e outros indivíduos viviam em casas localizadas fora das muralhas por lhes ser proibido morar dentro da praça murada (PAULA, 1992, p.355).
Em 1385, segundo o recenseamento realizado, havia dentro da cidade murada 1500 a 2000 vizinhos (famílias). Em cerca de 25 anos a população dentro da cidade murada duplicou. Portanto, quando o Infante Dom Henrique vem morar para Lagos, a cidade murada está superlotada e era urgente uma reestruturação de Lagos. Convém recordar, neste momento, os estratos sociais da época:

Estrutura social da época
I esfera: ricos homens e prelados cujos haveres não são quantificados, mas cujas figuras de topo são o Conde e o Arcebispo que podem vir à corte acompanhados por um séquito de 30 vassalos, enquanto os mais poderosos terão de contentar-se com um séquito de 20 vassalos.
II esfera: cavaleiros-fidalgos com cerca de 1000 libras (de ouro), os escudeiros com cerca de 3000 libras e os cidadãos com 5000 libras e mais.
III esfera: homens que moravam nas vilas e que não tinham quantia para terem cavalos e os escudeiros de fidalgos ou de ricos homens que não tiverem maravedis (moeda portuguesa).
IV esfera: braceiros, mancebos, mesquinhos, pobres e escravos. (MEDINA; vol. III; 1994; pp.152-3).

Na época do rei Dom Pedro I, Lagos, de aldeia já passou a vila e é separada da jurisdição de Silves, ganhando a sua própria jurisdição por documento de 05 de Janeiro de 1361 que reconhece a Lagos a categoria de vila. Devido às incursões dos mouros na costa e às incursões dos castelhanos no reino, em 1360, o rei Dom Pedro I dá o privilégio aos moradores de Lagos e de todo o reino de possuírem armas de defesa
Segundo documento de 05 de Março de 1372, Lagos foi doada nesta data a Gregório Premado. (Livro de Dom Fernando, escrito por Baptista Lopes) e o rei Dom Fernando ordena que haja em Lagos o posto de Anadel – Comandante de regimento que, mais tarde, passa a Capitão-Mor ou Fronteiro. (PAULA; 1992; pp.350-356).

No século XIV, lacobrigenses ilustres que sejam do conhecimento actual temos apenas São Gonçalo de Lagos. São Gonçalo de Lagos nasceu e foi baptizado no ano de 1360 na freguesia de Nossa Senhora da Graça, única freguesia de Lago,s na altura. Foi beatificado pelo Papa Pio VI, em 1778. (MARTINS, 1992, p.98)

No tempo do rei Dom Pedro I e sobretudo no do rei Dom Fernando, agudizaram-se as contradições entre senhorios e os ricos-homens dos concelhos. Estes queixam-se nas Cortes contra a aposentadoria – providenciar o sustento, roupas e moradia aos juiz, corregedor, almoxarife, contadores e outros vedores e ouvidores devido à sua presença ter carácter provisório. Também se queixam da compra de víveres sem pagamento pelos senhores, do esbulho dos seus bens: que lhes abriam as adegas e vinham morar nas suas herdades como se estas fossem coutos deles, os senhores.
Então por ordem do rei Dom Pedro I, os nobres têm o prazo de um ano para repararem as suas casas. Se o não fizerem, o concelho pode usar os bens desses nobres para as reparar. A Lei das Sesmarias estabelecia aos senhores um prazo para adubarem ou darem a adubar as suas herdades. Quem estabelecia as rendas eram os arrendatários. Se o senhor não quisesse aceitar a renda estipulada, esta revertia para o concelho.

A segunda metade do século XIV conheceu as guerras do período fernandino e o fluxo migratório contínuo, após 1348, de populações rurais na direcção das urbes (cidades e vilas). Os grandes senhores obtêm numerosas doações de terras da coroa com a obrigação de servirem o rei com determinado número de lanças.  
Segundo documento, em 1341, o Papa Bento XII considerava a gente portuguesa «tão experimentada e audaz nas coisas pertencentes à guerra naval pela prática e exercício delas que dificilmente se poderia então encontrar outro povo mais competente.».
Em 1369, o rei Dom Fernando inicia uma guerra com Castela contra Dom Henrique pela conquista do trono de Castela, inserida no contexto mais vasto da Guerra dos Cem Anos
Nesta altura, era almirante da capitania de Lagos, Dom Manuel Pezagno, genovês. Dá-se um combate naval em frente do Cabo de São Vicente, Sagres, entre as caravelas do rei Dom Afonso IV e as caravelas do rei Dom Afonso I de Castela. Dom Manuel Pezagno, Almirante da Esquadra Portuguesa é feito prisioneiro.
Esta guerra prolonga-se até 1371, quando legados apostólicos concertaram as pazes para pôr fim a esta guerra peninsular. Portugal gastara com ela 4000 marcos, cerca de 18 quintais de ouro. 
Nesse mesmo ano de 1371, a 08 de Agosto, celebram-se Cortes em Lisboa com os infantes, prelados, mestres, condes, ricos-homens e fidalgos. Estes afirmam que as Cortes em Lisboa deverão reunir de três em três anos e a elas caberá decidir os magnos problemas da guerra e da paz, da moeda. Promulgaram que nenhuma lei valha contra o desembargo em Cortes. Contra a prática régia de entrega de numerosas fortalezas a alcaides castelhanos, requerem que as alcaidarias dos castelos só possam ser exercidas por portugueses. Censuram o rei por violar as Leis de Desarmotização e por comprar vinhos e mantimentos sem pagar.
Nas vilas, os fidalgos tentam colocar juízes e vereadores da sua confiança; pretendem, contra a lei do rei Dom Afonso IV, ter assento no concelho e assistir às vereações; recusam-se a pagar as obras de pontes, fontes e calçadas; compram mercadoria para vender o que lhes é defeso pelo seu estatuto de nobres; invadem os tribunais quando o juiz está em funções para aterrorizar os queixosos. Durante a guerra, recebiam soldo, mas em lugar de enviarem os seus homens para a fronteira, mandavam os vizinhos dos concelhos e ficavam-lhes com as casas e os haveres.
Em 1372, as Cortes voltam a reunir-se sucessivamente em Leiria, Évora e Porto. As populações recusam o pedido de dinheiro, recusam a imposição de sisas gerais e voltam a reclamar o direito de serem as Cortes a proclamarem a paz e a guerra.
Em 1383, o Poder cai na rua. A palavra Revolução usava-se por tudo e por nada, em todos os domínios. À insurreição de 06 de Dezembro de 1383, seguiu-se a guerra civil e a guerra pela independência nacional que se arrastou por 28 anos. A revolução fervilhava nas cidades, vilas e nos campos. Os filhos lutavam contra os pais, os irmãos contra irmãos, os pobres contra os ricos, os nobres contra os nobres e os plebeus. Os chefes e heróis eram sobretudo cidadãos, escudeiros de raiz urbana, pequenos nobres, mesteirais e ovelheiros. (MEDINA; vol. III; 1994; pp.149-69)

Por fim, Dom João I é aclamado rei de Portugal a 06 de Maio de 1385 e assim se inicia a II dinastia. Com a estabilidade na coroa portuguesa, o rei Dom João I e os seus conselheiros prepararam Portugal para um extraordinário empreendimento: aproveitar a situação geográfica de Portugal (da qual sempre se tinham queixado) para iniciar a época dos Descobrimentos e da navegação marítima “por mares nunca navegados”. O Infante Dom Henrique instala-se em Lagos e arredores, o rei Dom João I e Dom Nuno Álvares Pereira conquistam Ceuta em 1415; Dom Nuno Álvares Pereira constrói casas também em Lagos, na rua Direita e para Lagos começa a sua fase mais deslumbrante. O Infante Dom Henrique está para Lagos como o Marquês do Pombal está para Lisboa em termos da urbanização da vila.
Acredito que todo o processo de urbanização, pelo qual Lagos vai passar nos séculos XV e XVI tem a ver com escolhas e decisões do Infante Dom Henrique com todo o apoio técnico e financeiro mais profissional da época ao seu dispor, garantido pelo seu pai, o rei Dom João I.

BIBLIOGRAFIA
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